quinta-feira, 30 de junho de 2011
domingo, 19 de junho de 2011
Um beijo verde
Quando fui trabalhar num horto botânico vi que todas as noites, por entre as árvores, vinham os vaga-lumes à procura de uma fêmea. Passavam horas piscando e nada. A cada plantão, ao anoitecer eu reduzia as luzes, todas, para que eles pudessem encontrar as suas fêmeas. Eu imaginava que o chão daquele horto era repleto de fêmeas e logo, logo, após os encontros, macho e fêmea, o chão ficaria aceso de pupas porque as pupas dos vaga-lumes não piscam, ficam acesas como uma lâmpada verde.
Entanto observei que era uma procura em vão. Até a porta da estufa eu abria e eles entravam, davam voos rasantes, mas nenhuma piscadela vinha do chão ou de alguma folha. As fêmeas não tem asas... Por isso sobem em algum galho, alguma folha para facilitar a procura.
Os vagalumes desistiram de sobrevoar o horto, voltei a deixar as luzes acesas, mas no Dia dos Namorados, a lua bem no alto da cabeça, vi uma luz verde vinda de um penacho de coqueiro adolescente. Era uma fêmea de vagalume. Voltei a navegar às escuras. A luz dela ficou mais verde. Às vezes fico imaginando se a sarça ardente que não se consumia não era um bando de vagalumes perdidos no deserto e que Deus se aproveitou dessa maravilha de algumas infâncias para atrair Moisés.
Outro dia na universidade ouvi uma estudante dizer que seu tio lhe trouxe do alto de um monte, pela madrugada ainda escura, um graveto aceso. Fiquei sabendo que o monte chamava-se Monte Sinai e ficava em Mesquita. Em outros montes também Deus acendia o chão, as folhas, os gravetos. Muitos evangélicos que tem o costume de passar a noite nesses montes orando, desciam glorificando a Deus, dizendo que pegavam brasa nas mãos. Brasas que não queimavam. Brasas santas. Uma noite fui a um desses montes na companhia de muitos cristãos para pegar brasas nas mãos. O monte, à meia noite, lá no alto, de fato acendeu. Muitos desencavavam as brasas e as colocavam nas mãos. Puseram brasas nas minhas, trouxeram-me graveto aceso, folhas acesas, uma maravilha terrível porque eram pupas de vagal-umes da qualidade “terrícola” cujo brilho é constante e se alimentam de pequenos pedaços de madeira, folhas... E que estavam sendo destruídas. Naquela noite, naquele alto, tão alto, pensei em desfazer o engano, mas lembrei que quase precipitaram Cristo do alto de um monte por falar certas verdades. Não desfiz o engano por questão de sobrevivência, mas agora escrevo sobre o assunto para salvar aqueles vagal-umes. Quando Deus acende um graveto, ele fica aceso no escuro e no claro e o graveto que o tio da universitária trouxe a ela, apagou quando ela acendeu a luz. Eram pupas de vaga-lumes.
Mas achei que viria uma manada de vaga-lumes atrás daquela fêmea. Fiquei esperando um possível encontro naquele dia especial. Daria para escrever uma crônica. Não veio ninguém. A resposta já estava no penacho do coqueiro que apesar de adolescente estava cabisbaixo desde o primeiro piscar. A fêmea parou de relampejar e resolvi voltar para dentro e exercitar a escrita quando ao dar um passo ela piscou. Experimentei dar mais um passo e ela piscou de novo. Voltei os dois passos e estendi a mão para a folha do coqueirinho e ela desceu pelo braço, passou para a barba, chegou à minha boca, piscava e já não estava só.
*crônica do dia 12 de junho de 2011
*crônica do dia 12 de junho de 2011
sábado, 18 de junho de 2011
terça-feira, 14 de junho de 2011
Jato Sólido
No esguicho da mangueira de apagar incêndios, usada pelos bombeiros, há o jato sólido, a neblina de alta e a neblina de baixa. Há muita gente com o salário em neblina de baixa. O Bolsa Família é uma neblina de baixa se comparado não aos governos anteriores, mas ao volume de riqueza que entra no país. Só um jato sólido acabaria com a miséria.
Na semana passada os jornais trouxeram uma notícia, em neblina de baixa, que tinha uma decisão contemporânea para um fato antigo, bem antigo: o uso de subalternos, pagos com dinheiro público, como faxineiros e cozinheiros em casas de generais, coronéis, vice e contra-almirantes?
A Justiça se manifestou: “Justiça proíbe militares de fazerem tarefas domésticas para oficiais. A decisão é da 3a Vara Federal de Santa Maria (RS) e vale para o todo o país.” Ainda na notícia vinha a afirmativa de que “Nas Forças Armadas ninguém faz qualquer oposição”. Mas nem os constrangidos? Por quê?
Fiquei esperando o resto da semana para ver se alguém mais comentaria o fato. Comentaram no rádio e Carlos Heitor Cony até que saiu com uma neblina de alta sobre o assunto, mas não chegou ao jato sólido. Também! Ambos Cony e Viviane Mosé estão perdoados. Não foram soldados. Cony ia ser padre e Viviane vivia nos consultórios clinicando seus pacientes de psicologia antes da filosofia, mas eu, eu fui soldado e vi os peitinhos da filha do comandante tomando banho na piscina da sua casa e cheguei oficial sem a mínima condição de ser... Fui um taifeiro de sorte. Ah se todo constrangimento fosse esse...
Na ação em que os autores são os Ministérios Públicos Federal e Militar, entendeu o procurador da República que outra situação foi levada em consideração: “O constrangimento a que esses militares são submetidos”. Eu diria um constrangimento proveitoso. Muitos desses taifeiros, mecânicos, empregados domésticos, como queiram, receberam alguma felicidade. Daí o silêncio? A felicidade de não estar numa escala de serviço apertada de 2X1, das pesadas faxinas nos navios ou quartéis já é uma felicidade.
Vale dizer aqui a máxima que os Ministérios Militar e Federal atiraram no que viram e acertaram no que não viram. Olha se há tanto tempo isso acontece por que o interessado direto, o soldado, taifeiro, mecânico, nenhum deles reclamaram? É que alguma felicidade eles recebiam.
Vou contar uma lenda: no tempo em que os almirantes chegavam a Ministro, havia na terra de Uz certo almirante que era Ministro da Marinha. Na casa desse almirante trabalhava um pobre e constrangido taifeiro que já havia chegado a cabo e o seu grande sonho era ser oficial, mas o interstício de cabo para sargento à época era de 3 anos e mais 3 anos de sargento para fazer a prova para o oficialato, totalizando 6 anos. Num tempo em que a velocidade era preconizada e, já em curso, isso era esperar demais.
Um dia abriu, uma única vez, na Marinha, prova para oficial, e que os cabos, além dos sargentos, estavam autorizados também a fazer essa prova. Não se espantem porque já houve lei no nosso Brasil, uma Lei de Divórcio, que vigorou por um dia, apenas para beneficiar um parente de Getúlio Vargas...
Mas lá estava Jó, o nome do nosso cabo taifeiro é Jó, sofriiiido, coitado, com aquela luz brilhando para ele. Inscreveu-se. Fez a prova. Sem nenhuma condição de ser aprovado. E de todo o efetivo de cabos da Marinha do Brasil que prestou concurso para oficial, só um cabo passou: O cabo taifeiro que trabalhava, muito constrangido, na casa do Almirante-Ministro. Cabo Jó, que sofreu um inferno nas mãos da família do almirante, vejam como era terrível ficar vendo os peitinhos da filha do comandante na piscina, mas saiu de lá oficial.
Outro Motivo que justificou a ação civil pública era que são “submetidos a constrangimentos e suas atividades influiriam nas avaliações do militar, que teria a promoção retardada e seria submetido a inspeções de saúde mais frequentemente do que os demais.”
Como o leitor viu na minha lenda marinheira, não há retardo, mas avanço na promoção de soldados, marinheiros e fuzileiros incapazes. Como estamos aí com este incêndio dos bombeiros, muitos, só Deus sabe como passaram na prova para sargento. E vejam: virar uma laje da casa de um capitão bombeiro no final de semana, por exemplo, pode resultar em uma semana de licença paga pelo erário. Bombeiro é fogo!
sexta-feira, 3 de junho de 2011
Oficina de crônicas na IFRJ
-Divulgação I Colóquio de Políticas Culturais da Baixada Fluminense
Graças aos grandes esforços do Grupo, o Colóquio recebe destaque e grande repercussão nas mídias!!
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Postado por PET/Conexões de Saberes em Produção Cultural em 1.6.11 0 comentários
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Oficina de Crônicas
De imenso prazer, recebemos como convidados para nossa Oficina de Crônica o profº Cândido Rafael (IFRJ) e o escritor Claudio Alves, conhecido com Lasana Lukata (escritor por usucapião, como autodenomina).
Ao comentarmos a significação da palavra crônica, discutimos sua função principal do relato cronológico do cotidiano que nos situa e/ou nos cabe um pouco à imaginação. O cômico/irônico muito presentes, aproxima o leitor de forma leve e ainda assim opina com clareza as seriedades da vida.
Há de se apontar que as fronteiras entre os gêneros literários estão mais tênues, permitindo assim o uso dos textos com características mais pessoais de quem se aventura a escrever. A publicação de livros debandou em parte para os perfis virtuais com a ascensão da internet, democratizando a leitura com maior intensidade e permitindo maior grau de expressão.
O blogs nos dias atuais portam-se como agentes potencializadores da divulgação dos trabalhos ao grande público, fixando uma das principais funções das mídias que é o compartilhamento de idéias.
Nossa primeira crônica é datada de 1500, quando Pero Vaz de Caminha relata o “Achamento” do Brasil. A mistura de jornalismo e literatura, aliada aos fatos cronológicos registrados e vivenciados por Vaz de Caminha, enquadram a “Carta” no estilo literário.
leitura dos textos "Governo rosa: uma anilina no salário" e "As moedas de 5 centavos" |
Falemos um pouco sobre nosso convidado, Lasana. O escritor interpreta a denúncia da realidade nas suas crônicas. Admirador do memorável escritor Lima Barreto, aluno de Machado de Assis comenta o fato da “denúncia pela denúncia” como apontamento dos que não compreendem a real intenção de suas escritas tão intensas; ainda que de linguagem coloquial, o que facilita sua leitura dinâmica e sucinta. Com nome artístico africano, o escritor justifica a escolha pelo fato de homenagem a sua avó, grifando assim a categoria de importância a valorização da identidade de cada um de nós brasileiros.
terça-feira, 17 de maio de 2011
Linha D'água
Um navio com as quatros âncoras arriadas
é um quadrúpede do mar
ruminando sorvidas águas
do hospício do luar
quem diria minha vida
de azul se equilibrar.
recolhidas as âncoras
um navio é uma serpente sem jogo de cintura
e tudo isso cabe no bucho
só não cabe que o navio
é seguro pelo empuxo
abaixo da linha d’água
são os peixes, trabalhadores,
que carregam os navios nas costas
Moça com Laranja
Dioniso III
vai faltar no mundo água potável
então Adriana, deixa-me ser teu Adriático
extático banhar com beijos tua boca de jambo
descer das tuas partes altas
como os extintos laranjais da minha cidade
e cobrir com uma manada de laranjas
as extensas planícies do teu ventre
branco flor de laranjeira
flor perfume para a vida inteira
passa moça no meu rosto
estas franjas e as laranjas dos teus peitos
e não te assuste os espinhos desses laranjais
só se inclinam pra pescar no poço do teu umbigo
no fundo de ti
os frutos de tua árvore submersa que em conversa não florescem
há poetas, Adriana, que saem às ruas para colher poesia das coisas
e de repente é a vida quem arranca um poema da gente
vê, a tua razão me chama de senhor
mas a emoção murmura: meu amor
e por debaixo do lençol
lá fora uivam as lobas teu bemol
ordenha, Adriana, as laranjas desse pomar
são tuas mas nem precisa
elas se derretem suco sobre ti
ordena moça
e essas loucas laranjas indisciplinadas
seguirão após ti
uma a uma
numa fila indiana
e Adriana,
deixarão de ser indisciplinadas
deixarão de ser até laranjas
mas a loucura por ti
é incurável
segunda-feira, 16 de maio de 2011
Yoga
boquiaberto
com a técnica oriental
de se olhar por dentro
o capitalista percebeu que tinha coração
e assim começou a venda de órgãos
Vigia de Mar
eu jogava tintura Márcia
no bigode branco do navio
e o tempo passava ao largo
distante da proa e de mim
À maneira de Fernando Pessoa
do bolo desta vida
nunca se quer o pedaço pequeno
mas do bolo desta vida
sempre me deram o pedaço pequeno
e por que nessa vida um tem que ficar
com o pedaço pequeno?
do boldo dessa vida
sempre me deram o pedaço grande
embora eu preferisse
o pedaço pequeno
nunca se quer o pedaço pequeno
mas do bolo desta vida
sempre me deram o pedaço pequeno
e por que nessa vida um tem que ficar
com o pedaço pequeno?
do boldo dessa vida
sempre me deram o pedaço grande
embora eu preferisse
o pedaço pequeno
Dioniso II
uso sapatos até serem navios adernados
- dói a coluna
mas preciso da certeza de que em mim
a poesia caminhou
- dói a coluna
mas preciso da certeza de que em mim
a poesia caminhou
Dioniso
meus olhos são dois cavalos rebeldes
que de repente disparam pra longe
e regressam com as patas sujas de versos
CANÇÃO PARA ISABEL E BEIJA-FLOR
um dia em que não precisava estar ligado o ar
a biblioteca abriu as janelas e por uma delas entrou um beija-flor.
pousou sobre Pablo Neruda 20 Poemas de Amor e Uma Canção
Desesperada.
tivesse cérebro o beija-flor, Isabel, teria vindo àquela noite de inverno e pousado em Neruda,
mas teria vindo nessa primavera
em que as mangas se arredondam do tamanho dos teus seios
e o rastejante lodo sobe as árvores para vê-la
dos vários pontos de vista deslizando entre as estantes.
teria vindo hoje, Isabel
e pousado nos teus lábios cheirando a flor
e teu riso progrediria como obra de uma igreja pobre
Fósforo
o fósforo brilha porque se rala na aspereza
embora andando na Presidente Vargas
e avenidas do meu país
vejo fósforos
que ralam ralam na aspereza e não brilham
não conseguem sair da caixa
e dos que saem
muitos se quebram no caminho
perdem a cabeça
em vez de para a frente ralam-se para trás
ou não se mantêm longe da umidade
como recomenda a caixa
ah, fósforos!
que por ficarem perto do calor brilham cedo demais!
existe a hora para um fósforo brilhar...
existe a hora para um brilhar?
embora andando na Presidente Vargas
e avenidas do meu país
vejo fósforos
que ralam ralam na aspereza e não brilham
não conseguem sair da caixa
e dos que saem
muitos se quebram no caminho
perdem a cabeça
em vez de para a frente ralam-se para trás
ou não se mantêm longe da umidade
como recomenda a caixa
ah, fósforos!
que por ficarem perto do calor brilham cedo demais!
existe a hora para um fósforo brilhar...
existe a hora para um brilhar?
segunda-feira, 9 de maio de 2011
governo rosa: uma anilina no salário
Constrangedor... Com esse salário só dá para entrar no botequim e dar de cara com aquele ovo rosa e aquele torresmo cabeludo na vitrine, reclama Alessandra. Quem entrou na Câmara dos Deputados, na última quarta-feira, deu de cara com um palíndromo. Palíndromo é a frase ou palavra que se pode ler,indistintamente da esquerda para a direita ou vice-versa. Vem do grego palíndromos: que corre em sentido inverso, que volta sobre seus passos. “Roma me tem amor” é um dos muitos exemplos que temos. O palíndromo também é verificável em outros línguas: “nun” na alemã. A frase “A mala nada na lama” de Millor Fernandes é um palíndromo; a palavra ovo é outro palíndromo. Agora o ovo rosa de anilina que vende nos botequins é palíndromo duas vezes: ovo e anilina. Isso não é aumento, é uma anilina no salário. Mas não é só frase ou palavra que podem ser palíndromos. A vida tem os seus palíndromos. Veja-se o caso de Senaqueribe que seguiu caminho para invadir Israel e voltou pelo caminho que veio, conforme a profecia do profeta Isaías em 2 Reis 19: 28: “...porei o meu anzol no teu nariz, e o meu freio na tua boca, e te farei voltar pelo caminho por onde vieste.” Há muita gente por aí, dando dois passos para a frente e dois para trás. Toda a minha vida foi um palíndromo. Os números também podem ser palíndromos. O número 242 é palíndromo. Na verdade eles chamam não de palíndromo, mas de capicua. Entanto, são nomes diferentes para um mesmo fenômeno. Carmen Miranda morou no número 13 da Travessa do Comércio e encostado ao sobradinho em que ela morou, outro sobradinho tem o número 11, esse é palíndromo, pois tanto faz entrar na Travessa do Comércio pelo Arco do Teles, na Praça XV, como pela Rua do Ouvidor que o 11 será sempre 11. Mas o caso do novo salário mínimo, 545, aprovado pela Câmara de Gás, digo, de deputados, para desfelicidade do trabalhador é um palíndromo. Tanto faz ler da esquerda para a direita como da direita para esquerda que o salário vai continuar na mesma: 545. Há os que disseram que esse palíndromo de 545 não coloca em risco a economia do país; outros disseram que é o que é possível dar. Pois me deram um palíndromo. Uns dizem que o palíndromo é inútil, outros que o palíndromo facilita a memorização. Se facilita, o trabalhador nunca mais vai esquecer esses: R$545. O governo já começa marcando a história desse país, pois nunca tivemos um palíndromo como salário nem um governo rosa. Já a anilina é nossa velha conhecida. O governo tinha como dar mais do que um palíndromo aos trabalhadores. Neste século XXI, não se pode mais ficar restrito ao orçamento anual para dar aumento de salário, temos que levar em conta o orçamento PIB + inflação, somado aos bilhões da corrupção em nível federal, estadual e municipal. Temos que ser pragmáticos... Há outra analogia entre o palíndromo e o novo mínimo: o constrangimento. O palíndromo faz parte de uma técnica literária cujo nome é escrita constrangida, isto é, não pode fugir ao padrão determinado e o mesmo se dá com a votação desse novo salário, não pode passar de 545. A diferença é que na literatura constrangida, os constrangidos são aplaudidos, na política são vaiados. Rômulo Marinho, palindromista brasileiro, propõe classificar os palíndromos em Expliciti, Interpretabiles e Insensati. Expliciti são palíndromos que trazem uma mensagem direta, clara inteligível, “socorram-me, subi no ônibus em marrocos”; Interpretabiles são palíndromos que têm coerência, mas requer esforço intelectual do leitor para serem entendidos com "A Rita, sobre vovô, verbos atira."; Insensati são palíndromos que apenas unem letras ou palavras sem levar em conta o sentido. Olé! Maracujá, caju caramelo. Com esse palíndromo que o governo obriga o trabalhador a receber, penso que deveríamos acrescentar à classificação de Rômulo Marinho uma nova classificação para os palíndromos numéricos como este de 545: palíndromo ridiculus. É palíndromo ridiculus se comparado aos bilhões que correm no mundo da corrupção; é palíndromo ridiculus se comparado aos vencimentos daqueles que podem aumentar seus próprios salários, protegendo-se da inflação. Quem disse que ela acabou? Na vez do povo: palíndromo ridiculus. É irresponsabilidade fiscal. A votação na câmara seria palindrômica se a vitória dos 545 fosse por 333 ou 353 ou 363 ou 444 votos, mas foram 361 votos a 120, rejeitando os R$560 e 376 rejeitaram os R$600. Se bem que poderíamos obter um palíndromo a partir destes 361 e 376, contudo, teríamos que fazer umas continhas e aqui não é matemática, é Literatura. Dependendo do cronista, crônica é Literatura.
Olhando essa lista de votação do novo mínimo na internet, vejo nomes de dois Palíndromos que votaram a favor do palíndromo 545: Ana e Natan. Pois é... Algo melhorou nesse país, na ditadura era “Prendo e arrebento”, agora é a Palindromocracia ou A Era dos Contrangimentos. Para quem acompanhou aquela votação cabeluda, um torresmo cabeludo não é nada mal... Vai um torresmo cabeludo?!
domingo, 8 de maio de 2011
Inefável
O impossível coice de um cavalo-marinho
Abriu a ostra onde havia pérola
E se eu não tivesse naufragado
Jamais veria esta cena
E não teria este colar de ilusões
Para aliviar a aspereza destas noites nervosas em que o
poema não vem
Ou rebenta ao mínimo ruído como se fosse solitária
E o que deveria ser tudo metros mais de quinze
No papel é pouco milímetros quase nada
E em mim fica presa uma enorme madrugada
Inefável indizível cá por dentro deformada
Abriu a ostra onde havia pérola
E se eu não tivesse naufragado
Jamais veria esta cena
E não teria este colar de ilusões
Para aliviar a aspereza destas noites nervosas em que o
poema não vem
Ou rebenta ao mínimo ruído como se fosse solitária
E o que deveria ser tudo metros mais de quinze
No papel é pouco milímetros quase nada
E em mim fica presa uma enorme madrugada
Inefável indizível cá por dentro deformada
El hombre de las manos brillantes
à Julia Liers
como una rebaba de un engarce
que prende las piedras preciosa
quiero prenderte en mis versos
porque rebaba no es sólo el sobrante
mas dedos que se doblan
sobre la piedra preciosa para prenderla
tú eres una piedra preciosa
y quiero doblar mis dedos sobre ti
y yo seré el único en ese mundo
a tener una estrella en un engarce
una estrella de cabellera negra
una estrella que baja a los más humildes versos para leerlos
una estrella que dejará mis dedos se doblaren sobre ella
una estrella que se agregó a su engarce
como una espada cuyo puño camina junto y lejos de la punta
como un barco cuya proa y popa están juntas y alejadas
pocos son barcos y espadas singlando por las tardes
pero nosotros caminaremos
barco espada
nao y capitán
dígrafo inseparable
y yo seguiré así, cariño:
con estos dedos que te prenden y hacen versos
con mis manos brillantes sólo de tocar en ti
como una rebaba de un engarce
que prende las piedras preciosa
quiero prenderte en mis versos
porque rebaba no es sólo el sobrante
mas dedos que se doblan
sobre la piedra preciosa para prenderla
tú eres una piedra preciosa
y quiero doblar mis dedos sobre ti
y yo seré el único en ese mundo
a tener una estrella en un engarce
una estrella de cabellera negra
una estrella que baja a los más humildes versos para leerlos
una estrella que dejará mis dedos se doblaren sobre ella
una estrella que se agregó a su engarce
como una espada cuyo puño camina junto y lejos de la punta
como un barco cuya proa y popa están juntas y alejadas
pocos son barcos y espadas singlando por las tardes
pero nosotros caminaremos
barco espada
nao y capitán
dígrafo inseparable
y yo seguiré así, cariño:
con estos dedos que te prenden y hacen versos
con mis manos brillantes sólo de tocar en ti
Conciso
o poeta no supermercado
empurra um carrinho vazio
entre gôndolas verdes
na esperança de que ao menos uma faça bem aventurada.
porém, obediente aos tempos difíceis
o poeta não esbanja economiza
e sem ser avarento
vai empurrando o carrinho
atropelando a lógica
sentindo a emoção e a força de empurrar o vazio
este substantivo abstrato
tão concreto dentro de mim
empurra um carrinho vazio
entre gôndolas verdes
na esperança de que ao menos uma faça bem aventurada.
porém, obediente aos tempos difíceis
o poeta não esbanja economiza
e sem ser avarento
vai empurrando o carrinho
atropelando a lógica
sentindo a emoção e a força de empurrar o vazio
este substantivo abstrato
tão concreto dentro de mim
Separação de sílabas
na sala de aula
quando a professora perguntava
como era a minha família
eu dizia que era um tritongo
havia cigarra
dançávamos jongo
mas a mãe se foi
a cigarra morreu
a dança acabou
a tristeza invadiu
meu pai e a mim
e viramos ditongo
mas veio a madrasta
que teve três filhos
me jogou num hiato
e fiquei feito um i
em ICARA-í
à Júlia Liers
Tarde de transfusão
que para não te espantar
virava garça
e a mão
um ancinho de ternura
saneava palavras a serem ditas
e juntava teus cabelos num canto do ombro
para beijar-te no pescoço fingidamente desnudo
um jardim em estado líquido gasoso
enquanto o rio associado aos teus lábios de batom
incendiava-se de flamboyants
transbordando um vermelho varrido pelos olhos
para dentro de um peito sem sangue
e a vida refluía
e eu voava
capinava peixes no rio
e por mais que os arrancasse pelas raízes
feéricos
renasciam feito capim
feito um sonho
Epifania
(2ª intuição)
uma fúria suave de buganvílias oferecendo-se às calçadas
por entre as grades das casas pelas tardes de inverno
buganvílias de ramos arqueados e retos
e passa a menina enamorada
e o rapaz lhe põe um cacho no cabelo
passa outra menina e se fotografa ao lado delas
os meninos as levam ao pique-bandeira:
bandeira branca, lilás, salmão, alaranjada...
do alto a garça crepuscular, visão binocular
da paisagem se alimenta.
tardes de inverno
por que logo hoje para fora das grades
esse único e reto ramo de buganvília vermelha
uma espada ensangüentada
que acabou de sair do meu peito?
por que logo hoje para fora das grades
esse único e reto ramo de buganvília vermelha
uma espada ensangüentada
que acabou de sair do meu peito?
Epifania
uma fúria suave de buganvílias oferecendo-se às calçadas
por entre as grades das casas pelas tardes de inverno
buganvílias de ramos arqueados e retos
e passa a menina enamorada
e o rapaz lhe põe um cacho no cabelo
passa outra menina e se fotografa ao lado delas
os meninos as levam ao pique-bandeira:
bandeira branca, lilás, salmão, alaranjada...
do alto a garça crepuscular, visão binocular
da paisagem se alimenta.
tardes de inverno
por que logo hoje para fora das grades
esse único ramo de buganvília vermelha
reto como uma espada ensangüentada
que acabou de sair do meu peito?
por que logo hoje para fora das grades
esse único ramo de buganvília vermelha
reto como uma espada ensangüentada
que acabou de sair do meu peito?
Minha avó
Eu nunca vou me esquecer
Do negro tirando o olho da cana
E o branco arrancando o olho do negro
Do negro tirando o branco da cana
E o branco arrancando o branco do negro
Do negro querendo o olho na cama
E o branco arrancando o sono do negro
Do negro pegando um pouco de cana
E o branco arrancando os dentes do negro
Do negro gemendo moenda de cana
E o branco sorrindo do canto do negro
Do negro pedindo um pouco de chama
E o branco tostando a pele do negro
Da negra e avó deitada na cama
E o branco e avô batendo na negra
Da negra doente saindo pra rua
E o branco e avô saindo pro bar
Da negra e avó caindo na rua
E o branco e avô caindo no bar
Da negra e avó dormindo na rua
E o branco Joaquim dormindo no bar
Da negra e avó despertando na lua
E o bronco Joaquim esperto no bar
Do negro tirando o olho da cana
E o branco arrancando o olho do negro
Do negro tirando o branco da cana
E o branco arrancando o branco do negro
Do negro querendo o olho na cama
E o branco arrancando o sono do negro
Do negro pegando um pouco de cana
E o branco arrancando os dentes do negro
Do negro gemendo moenda de cana
E o branco sorrindo do canto do negro
Do negro pedindo um pouco de chama
E o branco tostando a pele do negro
Da negra e avó deitada na cama
E o branco e avô batendo na negra
Da negra doente saindo pra rua
E o branco e avô saindo pro bar
Da negra e avó caindo na rua
E o branco e avô caindo no bar
Da negra e avó dormindo na rua
E o branco Joaquim dormindo no bar
Da negra e avó despertando na lua
E o bronco Joaquim esperto no bar
À maestra Patrícia Aniceto
tu nombre tatué en el águas del mar
y para verlo
piso en el águas cómo quien pisa en un botón
y un pelotón del caballos-marinos si yerguen
cómo un pelotón eléctrico
y en sincronía boya tu nombre coloreado
ni erguido ni arqueado mas erecto
caballo-marino
porqué la vida es para ser erecta
un nombre cubierto de azul de algas y sol
y que dejan los pájaros de bucear en el águas del mar
para tuyo nombre deletrear en los altos cielos a sus hijos
tuyo nombre subrayado de piscis rojos
un nombre que es mi pátria:
Patrícia
y si en breve Patrícia
tú pisar en el águas
y tu nombre no boyar más
yo no dejé de te amar
fueron ellos que mataran los caballos-marinos
tu nombre tatué en el águas del mar
y para verlo
piso en el águas cómo quien pisa en un botón
y un pelotón del caballos-marinos si yerguen
cómo un pelotón eléctrico
y en sincronía boya tu nombre coloreado
ni erguido ni arqueado mas erecto
caballo-marino
porqué la vida es para ser erecta
un nombre cubierto de azul de algas y sol
y que dejan los pájaros de bucear en el águas del mar
para tuyo nombre deletrear en los altos cielos a sus hijos
tuyo nombre subrayado de piscis rojos
un nombre que es mi pátria:
Patrícia
y si en breve Patrícia
tú pisar en el águas
y tu nombre no boyar más
yo no dejé de te amar
fueron ellos que mataran los caballos-marinos
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